Rafah. Israel assume controlo da fronteira entre Faixa de Gaza e Egito

por Cristina Sambado - RTP
Mohammed Saber - EPA

O exército israelita anunciou esta terça-feira que assumiu o "controlo operacional" do lado da Faixa de Gaza da passagem fronteiriça com o Egito em Rafah, no sul do enclave. Na última noite foram registados vários ataques aéreos, o que pode colocar em causa a possibilidade de um cessar-fogo.

Segundo as Forças de Defesa de Israel e as autoridades palestinianas, a passagem de Rafah, situada no sul da Faixa de Gaza, foi tomada por tanques israelitas que fazem parte de uma brigada blindada.

“Temos o controlo operacional do lado de Gaza da passagem de Rafah e temos forças especiais a vigiar a passagem. É isso que vai acontecer nas próximas horas. A operação ainda não terminou”, avançam as forças israelitas.

As forças israelitas alegaram anteriormente que o Hamas tinha usado a área em torno da fronteira para lançar dezenas de mísseis que mataram quatro soldados israelitas perto de Kerem Shalom, que liga o sudeste de Gaza ao território israelita. O exército israelita acrescentou que decidiu assumir o controlo da passagem fronteiriça depois de receber informações de que estava “a ser usada para fins terroristas” pelo movimento islamita palestiniano Hamas, embora sem fornecer quaisquer provas.

Imagens transmitidas pelos órgãos de comunicação social israelitas mostram uma bandeira de Israel hasteada no lado de Gaza da fronteira.

Segundo a Reuters, Wael Abu Omar, o porta-voz da agência responsável pelas fronteiras no governo da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas desde 2007, disse que a passagem de Rafah, a principal entrada de ajuda humanitária, estava encerrada devido à presença de tanques israelitas.

Toda a área do oeste [de Rafah] tornou-se um teatro de operações desde ontem [segunda-feira]. O bombardeamento não parou”, afirmou Abu Omar, acrescentando que o pessoal fronteiriço fugiu por causa da ofensiva israelita.

Três fontes humanitárias revelaram também à agência que o fluxo de ajuda através da passagem está agora interrompido. Rafah é a única passagem que não é gerida por Israel.
Noite de bombardeamentos aéreos
Os tanques e aviões israelitas bombardearam várias áreas e casas em Rafah durante a última noite, matando 20 palestinianos e ferindo vários outros em ataques que atingiram pelo menos quatro casas, revelaram as autoridades de saúde palestinianas.

Israel também bombardeou as zonas orientais de Beit Lahiya, Jabalia e Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza, segundo afirmaram os residentes à Reuters.
Os residentes afirmaram que Israel lançou novos panfletos na terça-feira, avisando novamente as pessoas para abandonarem as zonas do leste de Rafah.
“A ocupação israelita condenou à morte os residentes da Faixa de Gaza após o encerramento do posto fronteiriço de Rafah”, afirmou Hisham Edwan, porta-voz da Autoridade do Posto Fronteiriço de Gaza, que também condenou à morte os doentes com cancro devido ao colapso do sistema de saúde.

Israel ameaçou lançar uma grande incursão em Rafah, onde, segundo as forças israelitas, se encontram milhares de combatentes do Hamas e, potencialmente, dezenas de reféns. “A vitória é impossível sem a tomada de Rafah”, afirmam.
Negociações de cessar-fogo prosseguem no Cairo
Na segunda-feira, em breve declaração, o Hamas revelou que um dos seus responsáveis, Ismail Haniyeh, tinha informado os mediadores do Catar e do Egito que o grupo aceitava a proposta de cessar-fogo.

Mais tarde, o gabinete de guerra israelita, chefiado pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, frisou que a proposta de tréguas ficou aquém das exigências, e que tinha decidido prosseguir com as operações em Rafah, e que concordou em enviar uma delegação ao Cairo para continuar as negociações para uma trégua com o Hamas.Em Doha, o Ministério dos Negócios Estrangeiros revelou que a sua delegação vai esta terça-feira ao Cairo para retomar as negociações indiretas entre Israel e o Hamas.

O Governo de Netanyahu acrescentou em comunicado que o seu gabinete de guerra aprovou a continuação de uma operação em Rafah. O ministro jordano dos Negócios Estrangeiros, Ayman Safadi, escreveu na rede social X que Netanyahu estava a pôr em risco o cessar-fogo ao bombardear Rafah.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, sublinhou que Washington iria discutir a resposta do Hamas com os seus aliados nas próximas horas, e que um acordo era “absolutamente exequível”.

Qualquer trégua seria a primeira pausa nos combates desde um cessar-fogo de uma semana em novembro, durante o qual o Hamas libertou cerca de metade dos reféns. Desde então, todos os esforços para alcançar uma nova trégua fracassaram devido à recusa do Hamas em libertar mais reféns sem a promessa de um fim permanente do conflito, e à insistência de Israel em discutir apenas uma pausa temporária.

Mais de 34.700 palestinianos morreram no conflito, de acordo com as autoridades sanitárias de Gaza. Segundo a ONU, “a fome é iminente no enclave”.


O Ministério da Saúde do Hamas anunciou esta terça-feira um novo balanço de 34.789 mortos e 78.204 feridos na Faixa de Gaza em sete meses de conflito. No espaço de 24 horas, foram registadas pelo menos mais 54 mortes.

A guerra começou quando militantes do Hamas atacaram Israel a 7 de outubro, matando cerca de 1.200 pessoas e raptando 252 outras, das quais se crê que 133 permanecem em cativeiro em Gaza, de acordo com os registos israelitas.

c/ agências
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